domingo, 31 de julho de 2011

Programa de computador pode revolucionar estudos sobre autoria da Bíblia


Agência Pavanews, com informações da AOL
Um programa de computador criado por uma equipe israelense está dando  informações  importantes sobre o que os pesquisadores consideram os diversos autores da Bíblia.
O novo software baseia-se num algoritmo para analisar o estilo e a escolha de palavras e assim determinar as partes do texto que foram escritas por diferentes autores. Essa forma de análise e comparação pode mostrar muito sobre os autores humanos do Livro Sagrado.
O programa utiliza um dos sub-campos de estudos da inteligência artificial, chamado de “atribuição de autoria”, tem muitas aplicações em potencial, como o desenvolvimento de novos programas de computador para escritores. Mas a Bíblia é um teste e tanto para os criadores do algoritmo.
Para milhões de judeus e cristãos, ver Deus como o autor dos textos bíblicos é um princípio de fé. Mas estudos acadêmicos sobre o texto bíblico indicam que a Bíblia foi escrita por diferentes autores, que podem ser distinguidos por suas ideologias, estilos linguísticos e os nomes que usavam para se referir a Deus.
Os estudiosos dividem os textos em duas correntes principais. Uma parte teria sido de autoria de uma pessoa ou grupo conhecido como “autor  sacerdotal”, devido a sua aparente ligação com os sacerdotes do Templo em  Jerusalém. A outra é chamada apenas de “não-sacerdotal”. Os acadêmicos vem tentando separar que partes pertencem a que corrente a bastante tempo.
Quando esse programa analisou os 5 primeiros livros, chamados de Pentateuco, concordou com a divisão tradicional dos acadêmicos em 90% dos casos. Ou seja, refez em poucos minutos o trabalho que diversos estudiosos levaram anos, explicou Moshe Koppel, professor de ciências da computação da Universidade de Bar Ilan, que lidera a equipe de pesquisadores.
“Conseguimos recapitular vários séculos de um árduo trabalho manual com nosso novo método automático”, escreveu a equipe em um artigo apresentado recentemente na conferência anual da Associação de Linguística Computacional em Portland, EUA. As passagens que o programa não segue a interpretação acadêmica tradicional podem oferecer pistas interessantes para os estudiosos.
Por exemplo, o primeiro capítulo de Gênesis  é atribuído a um autor “sacerdotal”, mas o software indicou o contrário. Outro exemplo é o livro do profeta Isaías, que geralmente é visto como tendo dois autores, sendo que o segundo teria escrito do capítulo 39 em diante. O programa concorda que o texto possa ter dois autores, mas sugere que o segundo começou seu trabalho seis capítulos antes, no 33.
Essas diferenças “têm o potencial de provocar discussões frutíferas entre os estudiosos”, reconheceu Michael Segal, membro do departamento de Bíblia da Universidade Hebraica e que não faz parte do projeto. Não é a primeira vez que um programa de computador é usado pelos estudiosos na comparação dos textos. Porém, esse novo software parece ser capaz de usar os critérios desenvolvidos por eles e aplicá-los por meio dessa ferramenta tecnológica que é mais potente que a mente humana, disse Segal.
Antes de aplicar o programa nos livros da Bíblia, os pesquisadores fizeram um teste prático para demonstrar que o algoritmo criado por eles era capaz de distinguir corretamente um autor de outro. Eles misturaram passagens dos livros de Ezequiel e Jeremias, criando um único texto. O software separou as palavras do texto embaralhado “quase perfeitamente”.
O programa é capaz de reconhecer escolhas de palavras repetidas, como os termos equivalentes em hebraico de “se”, “e” e “mas”, e também identifica  sinônimos. Por exemplo, a Bíblia usa as palavra “makel” e ”mateh” para se referir a um cajado. O software separa o texto em partes que acredita terem sido escritas por pessoas diferentes dependendo da escolha dos termos.
Outros pesquisadores têm olhado para a existência dessas “impressões digitais linguísticas” em diferentes tipos de textos como uma maneira de identificar escritores desconhecidos. Na década de 1990, o professor inglês Donald Foster apontou o jornalista Joe Klein como o autor anônimo do livro “Primary Colors”, a partir de detalhes menos importantes, como a pontuação.
Em 2003, Koppel fez parte de uma equipe que desenvolveu um software que poderia indicar com sucesso, se o autor de um texto era do sexo masculino ou feminino. Os pesquisadores descobriram que as mulheres são muito mais propensas a usar os pronomes pessoais, como “ela” e “ele”, enquanto os homens preferem determinantes, como o “que” e “isto”. Em outras palavras, as mulheres, falam sobre as pessoas, enquanto os homens preferem falar sobre as coisas. O sucesso dessa análise gerou um debate sobre como o gênero afeta nossa forma de pensar e comunicar.
O que o algoritmo não é capaz de determinar é se a Bíblia é humana ou divina. Três dos quatro acadêmicos envolvidos no desenvolvimento do programa, inclusive Koppel, são judeus praticantes. Ou seja, creem que a Torá foi entregue a Moisés pelo próprio Deus. Embora seja inegável que vários autores humanos colaboraram no processo de formação do cânone, os acadêmicos israelenses não abordam em seu artigo se a autoria é humana ou divina. ”Não há razão para acreditar que Deus não possa ter escrito o livro usando vozes múltiplas. Mas nenhuma pesquisa será capaz de resolver essa questão – resume Koppel.

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