24-11-2010 16:22
"Sete
dias comereis pães ázimos, e ao sétimo dia haverá festa ao Senhor. Sete
dias se comerá pães ázimos, e o levedado não se verá contigo, nem ainda
fermento será visto em todos os teus termos." Êxodo 13:6-7
"E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai." Mateus 26:27-29
Por diversas vezes ouvi a seguinte indagação: "Se Jesus bebeu vinho na Santa Ceia, porque não posso beber também?" Outros, querendo colocar seu erro dentro da Palavra de Deus, dizem: "Se Jesus e os discípulos tomaram vinho, então podemos beber bebida alcoólica." Aqueles que, lendo a Palavra, chegam a essas conclusões estão incorrendo em erros graves, tanto de hermenêutica (Ciência da interpretação da Bíblia) quanto de conhecimento histórico linguístico da época. Vou analisar neste estudo a evolução linguística, a linguagem original em que a palavra vinho foi escrita e a própria regra bíblica acerca da Páscoa e demonstrar que, definitivamente, usar textos da Bíblia para apoiar consumo de bebida alcoólica é, não só um erro de interpretação, como uma heresia! Vamos começar...
Antes de começar o estudo sobre a evolução linguística, principalmente a mudança de sentido da palavra Vinho, quero utilizar um exemplo simples da mudança de significado de algumas palavras no decorrer da história. Imagine que você decide realizar uma festa e convida todos os seus amigos, e diz para eles o seguinte: "Minha festa vai ter muita bebida, bebida a vontade, vocês vão amar!" Imaginando que seus amigos sejam consumidores de bebidas alcoólicas eles logo imaginarão que será uma festança, que poderão aproveitar muito e "encher a cara". No dia da festa, quando eles chegam ao local, percebem que somente está sendo servido sucos diversos, em abundância, e também litros e litros de refrigerantes, de todas as marcas e sabores. Pergunto: o que eles pensarão? Certamente pensarão que foram enganados não é? Mas, na verdade, não houve engano nenhum, pois sucos e refrigerantes também são bebidas, como diz o Dicionário Web (www.dicionarioweb.com.br/bebida.html): "Bebida: Todo líquido que se bebe". Mas, devido ao costume de se associar essa palavra com bebida alcoólica somente, seus amigos ficarão frustrados.
Da mesma forma aconteceu com a palavra Vinho no decorrer da história. Seu real significado foi sendo mudado, assumindo uma relação com bebida fermentada (alcoólica), quando nem sempre foi assim. Veja o que diz o Dicionário da Língua Portuguesa de José da Fonseca (por J. I. Roquete) de 1848 sobre a palavra vinho (texto na linguagem da época):
1- Liquor extrahido da uva.
Se procurarmos a definição da palavra Liquor, nesse mesmo dicionário, teremos as definições:
1- Substância fluída e líquida.
2- Bebida espirituosa.
Assim, segundo esse dicionário de 1848, a definição da palavra vinho seria:
1- Bebida espirituosa extrahida da uva.
2- Substância fluída e líquida extrahida da uva.
Onde está a associação com bebida alcoólica? Simplesmente não existe! Contudo, se procurarmos em qualquer dicionário atualmente, inclusive naqueles disponíveis na Internet, teremos a seguinte definição atual (www.dicionarioweb.com.br/vinho.html):
1- Bebida alcoólica resultante da fermentação da uva sob efeito de certas leveduras.
Observe a mudança da definição em pouco mais de 150 anos. Agora, se levarmos em consideração que a Bíblia foi terminada há cerca de 2000 anos atrás podemos, facilmente, concluir que na época a palavra vinho não possuía a mesma definição que possui atualmente. Desta forma pensar que o vinho relatado na Bíblia, por ocasião da Santa Ceia, refere-se a vinho alcoólico configura-se em erro de interpretação bíblica, por falta de conhecimento linguístico histórico!
A Bíblia foi escrita usando, predominantemente, duas línguas diferentes: hebraico no Antigo Testamento e grego no Novo Testamento. Se lermos o original hebraico do Antigo Testamento e procurarmos a palavra vinho, temos duas ocorrências:
1- YAYIN - possui dois significados: suco de uvas sem fermentação e suco fermentado.
2- TIROSH - suco de uvas fresco, ou seja, sem fermentação.
No Novo Testamento (que foi escrito em grego) temos a ocorrência da palavra vinho usando o termo:
1- OINOS - possui dois significados: suco de uvas sem fermentação e suco fermentado (o mesmo que a palavra hebraica YAYIN).
Quando a Bíblia foi inteiramente traduzida para o grego (versão conhecida como Septuaginta, porque setenta e dois homens traduziram o Antigo Testamento do hebraico para o grego, unificando a língua das Escrituras), os termos YAYIN e TIROSH foram traduzidos para o termo grego OINOS, pois o mesmo possuía implícito os dois significados possíveis para vinho: suco de uvas fermentado e suco de uvas sem fermentação. Assim, de acordo com o contexto bíblico, podia-se definir a que tipo de suco de uvas a palavra se referia.
Quando Jerônimo publicou a versão da Bíblia em latim (versão conhecida como Vulgata, publicada cerca de 400 d.C.) o termo grego OINOS foi traduzido para o termo latino VINUM que, em alguns dicionários e léxicos de latim, traziam definições como as seguintes (léxico de latim de Lewis & Short):
1- Uvas. Vinum pendens (vinho pendente).
2- Videira, vinha.
3- Vinho feito de uvas, vinho frutado.
Percebe-se pela definição em latim que a palavra VINUM significava tanto a própria fruta (uva), quanto o vinho frutado. Desta maneira, também cabia para a tradução da palavra OINOS, que significava vinho com ou sem fermentação.
Por esse breve histórico nota-se que o termo Vinho passou por várias traduções diferentes (hebraico para grego, grego para latim e, após outras traduções, para o português) mantendo sempre a forma inicial, ou seja, representando bebida com ou sem teor etílico. Contudo, devido aos vícios e costumes linguísticos, o termo que se firmou e tornou-se padrão hoje é vinho com teor etílico.
Assim demonstro que interpretar as Escrituras pela definição atual de linguagem é um erro grave, visto que a linguagem da Bíblia não é atual, mas milenar, devendo ser compreendida e estudada desta maneira.
Se você leu atentamente a passagem bíblica de Êxodo 13:6-7 percebeu que uma regra estabelecida por Deus para a Páscoa era: não haver fermento nem nos termos da casa ou local onde se comemorava a Páscoa. Os pães teriam que ser ázimos (sem fermento), e processos de fermentação não eram aceitos para essa cerimônia. Desta maneira o suco de uvas não poderia passar pelo processo de fermentação e ser consumido na ceia.
Isso mostra, biblicamente, de acordo com o descrito em Êxodo 13:6-7, que os discípulos e Jesus beberam durante a ceia o suco de uvas puro, sem fermentação, sem álcool, o qual representava o próprio sangue de Cristo, derramado para remissão de pecados. Pensar que tal vinho se referia a uma bebida alcoólica é heresia, uma distorção da própria Palavra de Deus.
"E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai." Mateus 26:27-29
Por diversas vezes ouvi a seguinte indagação: "Se Jesus bebeu vinho na Santa Ceia, porque não posso beber também?" Outros, querendo colocar seu erro dentro da Palavra de Deus, dizem: "Se Jesus e os discípulos tomaram vinho, então podemos beber bebida alcoólica." Aqueles que, lendo a Palavra, chegam a essas conclusões estão incorrendo em erros graves, tanto de hermenêutica (Ciência da interpretação da Bíblia) quanto de conhecimento histórico linguístico da época. Vou analisar neste estudo a evolução linguística, a linguagem original em que a palavra vinho foi escrita e a própria regra bíblica acerca da Páscoa e demonstrar que, definitivamente, usar textos da Bíblia para apoiar consumo de bebida alcoólica é, não só um erro de interpretação, como uma heresia! Vamos começar...
Evolução Linguística: A Palavra Vinho
Antes de começar o estudo sobre a evolução linguística, principalmente a mudança de sentido da palavra Vinho, quero utilizar um exemplo simples da mudança de significado de algumas palavras no decorrer da história. Imagine que você decide realizar uma festa e convida todos os seus amigos, e diz para eles o seguinte: "Minha festa vai ter muita bebida, bebida a vontade, vocês vão amar!" Imaginando que seus amigos sejam consumidores de bebidas alcoólicas eles logo imaginarão que será uma festança, que poderão aproveitar muito e "encher a cara". No dia da festa, quando eles chegam ao local, percebem que somente está sendo servido sucos diversos, em abundância, e também litros e litros de refrigerantes, de todas as marcas e sabores. Pergunto: o que eles pensarão? Certamente pensarão que foram enganados não é? Mas, na verdade, não houve engano nenhum, pois sucos e refrigerantes também são bebidas, como diz o Dicionário Web (www.dicionarioweb.com.br/bebida.html): "Bebida: Todo líquido que se bebe". Mas, devido ao costume de se associar essa palavra com bebida alcoólica somente, seus amigos ficarão frustrados.
Da mesma forma aconteceu com a palavra Vinho no decorrer da história. Seu real significado foi sendo mudado, assumindo uma relação com bebida fermentada (alcoólica), quando nem sempre foi assim. Veja o que diz o Dicionário da Língua Portuguesa de José da Fonseca (por J. I. Roquete) de 1848 sobre a palavra vinho (texto na linguagem da época):
1- Liquor extrahido da uva.
Se procurarmos a definição da palavra Liquor, nesse mesmo dicionário, teremos as definições:
1- Substância fluída e líquida.
2- Bebida espirituosa.
Assim, segundo esse dicionário de 1848, a definição da palavra vinho seria:
1- Bebida espirituosa extrahida da uva.
2- Substância fluída e líquida extrahida da uva.
Onde está a associação com bebida alcoólica? Simplesmente não existe! Contudo, se procurarmos em qualquer dicionário atualmente, inclusive naqueles disponíveis na Internet, teremos a seguinte definição atual (www.dicionarioweb.com.br/vinho.html):
1- Bebida alcoólica resultante da fermentação da uva sob efeito de certas leveduras.
Observe a mudança da definição em pouco mais de 150 anos. Agora, se levarmos em consideração que a Bíblia foi terminada há cerca de 2000 anos atrás podemos, facilmente, concluir que na época a palavra vinho não possuía a mesma definição que possui atualmente. Desta forma pensar que o vinho relatado na Bíblia, por ocasião da Santa Ceia, refere-se a vinho alcoólico configura-se em erro de interpretação bíblica, por falta de conhecimento linguístico histórico!
Linguagem Original da Palavra Vinho
A Bíblia foi escrita usando, predominantemente, duas línguas diferentes: hebraico no Antigo Testamento e grego no Novo Testamento. Se lermos o original hebraico do Antigo Testamento e procurarmos a palavra vinho, temos duas ocorrências:
1- YAYIN - possui dois significados: suco de uvas sem fermentação e suco fermentado.
2- TIROSH - suco de uvas fresco, ou seja, sem fermentação.
No Novo Testamento (que foi escrito em grego) temos a ocorrência da palavra vinho usando o termo:
1- OINOS - possui dois significados: suco de uvas sem fermentação e suco fermentado (o mesmo que a palavra hebraica YAYIN).
Quando a Bíblia foi inteiramente traduzida para o grego (versão conhecida como Septuaginta, porque setenta e dois homens traduziram o Antigo Testamento do hebraico para o grego, unificando a língua das Escrituras), os termos YAYIN e TIROSH foram traduzidos para o termo grego OINOS, pois o mesmo possuía implícito os dois significados possíveis para vinho: suco de uvas fermentado e suco de uvas sem fermentação. Assim, de acordo com o contexto bíblico, podia-se definir a que tipo de suco de uvas a palavra se referia.
Quando Jerônimo publicou a versão da Bíblia em latim (versão conhecida como Vulgata, publicada cerca de 400 d.C.) o termo grego OINOS foi traduzido para o termo latino VINUM que, em alguns dicionários e léxicos de latim, traziam definições como as seguintes (léxico de latim de Lewis & Short):
1- Uvas. Vinum pendens (vinho pendente).
2- Videira, vinha.
3- Vinho feito de uvas, vinho frutado.
Percebe-se pela definição em latim que a palavra VINUM significava tanto a própria fruta (uva), quanto o vinho frutado. Desta maneira, também cabia para a tradução da palavra OINOS, que significava vinho com ou sem fermentação.
Por esse breve histórico nota-se que o termo Vinho passou por várias traduções diferentes (hebraico para grego, grego para latim e, após outras traduções, para o português) mantendo sempre a forma inicial, ou seja, representando bebida com ou sem teor etílico. Contudo, devido aos vícios e costumes linguísticos, o termo que se firmou e tornou-se padrão hoje é vinho com teor etílico.
Assim demonstro que interpretar as Escrituras pela definição atual de linguagem é um erro grave, visto que a linguagem da Bíblia não é atual, mas milenar, devendo ser compreendida e estudada desta maneira.
Regras da Páscoa
Se você leu atentamente a passagem bíblica de Êxodo 13:6-7 percebeu que uma regra estabelecida por Deus para a Páscoa era: não haver fermento nem nos termos da casa ou local onde se comemorava a Páscoa. Os pães teriam que ser ázimos (sem fermento), e processos de fermentação não eram aceitos para essa cerimônia. Desta maneira o suco de uvas não poderia passar pelo processo de fermentação e ser consumido na ceia.
Isso mostra, biblicamente, de acordo com o descrito em Êxodo 13:6-7, que os discípulos e Jesus beberam durante a ceia o suco de uvas puro, sem fermentação, sem álcool, o qual representava o próprio sangue de Cristo, derramado para remissão de pecados. Pensar que tal vinho se referia a uma bebida alcoólica é heresia, uma distorção da própria Palavra de Deus.
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