No cristianismo protestante atual, diversas denominações vêm abrindo espaço para a ordenação eclesiástica de mulheres. Entretanto, uma polêmica paira em cima dessa prática, pois o assunto não é unanimidade entre líderes e fiéis.
Há denominações mais tradicionais contrárias à consagração de pastoras, presbíteras, diaconisas ou qualquer outro cargo religioso. No debate, os contrários a mulheres em cargos de comando dentro das denominações argumentam que Jesus não ordenou mulheres em seu ministério.
O professor de teologia
Waldyr Carvalho Luz, do Seminário Presbiteriano do Sul, explica que a questão cultural do tempo que Jesus viveu, era um fator determinante para que ele não ordenasse uma mulher entre seus discípulos, e que Jesus também não deixou nenhum indício de que houvesse outro motivo para isso: “a questão da ordenança feminina às funções eclesiásticas (diaconato, presbiterato, ministério sagrado) nem sequer é ventilada através do Novo Testamento. Jesus, tanto no caso dos doze, como, quanto parece, na chamada Missão dos Setenta, aliciou apenas homens, como, aliás, era a norma no mundo contemporâneo. Se alguma outra motivação teve ele, não a explicitou. E conjecturar a esse respeito é irrelevante. Na Palestina dos dias de Jesus não haveria lugar para matriarcado e mulher em posição de autoridade”, declarou Carvalho, em entrevista à revista Ultimato.
O professor Waldyr Carvalho, porém, entende que a questão cultural nos dias atuais está superada, e que portanto, perante a luz do evangelho, é normal que uma mulher seja ordenada a um cargo eclesiástico. “Mercê da obra redentora de Cristo, cancela-se a disposição vigente e implanta-se um regime de paridade e equalização, abolidas as distinções prévias, homem e mulher a fazer jus ao mesmo ‘status’ em Cristo”, argumenta o professor.
Waldyr afirma ainda que a inclusão das mulheres nas atividades da igreja se dá por ação do Espírito Santo, e que não possui relação com a volta de Cristo: “A lenta, mas progressiva inclusão da mulher nos ministérios da igreja é a resultante lógica e natural da operação iluminadora do Espírito Santo a superar limitações e barreiras descabidas que entravam a obra do evangelho. Não se reveste de caráter escatológico, nem é sinal de tempos ou do fim do mundo. É simplesmente, o produto da incoercível dinâmica do evangelho na implantação do reino de Deus ao longo da história”.
Entre os contrários à ordenação feminina, há variados argumentos, entre eles, o de que Deus criou primeiro a Adão, e depois a Eva: “O assunto em questão não é para desmerecer o ministério das mulheres, mas para fazê-las enxergar, que essa ordenação de ‘pastoras’ não é bíblico, é humano, e totalmente carnal. A mulher nunca deve estar na posição de liderança espiritual, pois essa posição foi dada ao homem (Deus disse: Domine o homem). Isso é assim desde o princípio; Primeiro foi formado Adão, e depois Eva. Quando Deus criou Eva, a criou para ser ajudadora, auxiliadora. Ele não a criou para liderar. “Pastora” é uma posição de liderança e contrária à instituição Divina. Isto que está acontecendo em nosso meio é uma afronta ao nome de Deus”, opina o articulista do blog “
O Bereano”.
Há críticas também ao fato de muitas igrejas considerarem que a esposa de um pastor também é pastora, devido à união conjugal: “Uma frase terrível que tem surgido nos seguimentos que ordenam mulheres ao pastorado é: Mulher de pastor é pastora, pois, Deus disse que seriam uma só carne. Que absurdo! Ainda usam a Palavra de Deus para tentarem dar bases as suas loucuras. O chamado é pessoal, o ministério é individual. Esposa de pastor não é pastora”, afirma o texto.
Há também, além dos argumentos relacionados ao ministério de Jesus, que notadamente não incluiu mulheres entre seus discípulos, o argumento de que na
Bíblia, que possui diversos escritores, não existe nenhuma mulher: “Isso não significa que a mulher tenha menos capacidade intelectual ou espiritual. Entretanto, isso é uma clara mensagem de Deus para o Seu povo: Ele quer usar o homem na liderança. Isso é um fato incontestável que nenhuma feminista poderá jamais refutar. Ir de encontro a isso será uma rebeldia que cada uma irá carregar, arcando com as conseqüências”, pontua o artigo.
Porém, o bispo anglicano e Doutor em Escatologia e Ciências da Religião
Hermes Carvalho Fernandes, afirma que “A atividade pastoral é, antes de tudo, um dom– O argumento usado por Pedro para justificar a inclusão dos gentios na igreja foi o dom do Espírito que lhes fora concedido da mesma maneira como aos judeus. Como os apóstolos poderiam impedir a sua inclusão? Semelhantemente, a igreja deve reconhecer o dom pastoral que tem sido concedido a indivíduos do sexo feminino. Ordenar nada mais é do que reconhecer o dom. Negar-se a reconhecer o dom conferido por Deus é o mesmo que resistir a Deus”, argumenta, citando a passagem bíblica de Atos 11.
Fernandes afirma que há denominações que reconhecem o dom mas não atribuem o título, o que para ele, é errado: “Se os líderes atuais reconhecessem o dom pastoral que Deus tem concedido à mulheres, toda discussão cessaria. Alguns, mesmo reconhecendo do dom, negam o título. Algumas denominações preferem chamá-las de ‘missionárias’, ‘doutoras’, mas jamais ‘pastoras’. Chega a ser ridículo. Em contrapartida, encontramos muitos homens que ostentam o título sem jamais terem sido vocacionados para o desempenho do pastorado”.
O bispo Fernandes pontua que no protestantismo, todos os crentes são sacerdotes, e refuta o argumento de que na Bíblia, nenhuma mulher foi ordenada a cargos eclesiásticos: “Alguém poderá argumentar que embora encontremos profetizas nas Escrituras, jamais encontramos sacerdotisas. Mas peraí… Cristo não substitiu o sacerdócio levítico por um eterno, onde todos somos igualmente sacerdotes? Eis um dos pilares da reforma protestante. Todos os crentes são sacerdotes, sem importar seu gênero. Manter a distinção entre clero e leigos é um ranço indesejável que herdamos do romanismo”, critica o bispo, mencionando a passagem bíblica de 1 Pedro, capítulo 2.