quarta-feira, 21 de março de 2012

Crescente no meio evangélico, ordenação de mulheres ao pastorado causa polêmica entre cristãos

Crescente no meio evangélico, ordenação de mulheres ao pastorado causa polêmica entre cristãos
No cristianismo protestante atual, diversas denominações vêm abrindo espaço para a ordenação eclesiástica de mulheres. Entretanto, uma polêmica paira em cima dessa prática, pois o assunto não é unanimidade entre líderes e fiéis.
Há denominações mais tradicionais contrárias à consagração de pastoras, presbíteras, diaconisas ou qualquer outro cargo religioso. No debate, os contrários a mulheres em cargos de comando dentro das denominações argumentam que Jesus não ordenou mulheres em seu ministério.
O professor de teologia Waldyr Carvalho Luz, do Seminário Presbiteriano do Sul, explica que a questão cultural do tempo que Jesus viveu, era um fator determinante para que ele não ordenasse uma mulher entre seus discípulos, e que Jesus também não deixou nenhum indício de que houvesse outro motivo para isso: “a questão da ordenança feminina às funções eclesiásticas (diaconato, presbiterato, ministério sagrado) nem sequer é ventilada através do Novo Testamento. Jesus, tanto no caso dos doze, como, quanto parece, na chamada Missão dos Setenta, aliciou apenas homens, como, aliás, era a norma no mundo contemporâneo. Se alguma outra motivação teve ele, não a explicitou. E conjecturar a esse respeito é irrelevante. Na Palestina dos dias de Jesus não haveria lugar para matriarcado e mulher em posição de autoridade”, declarou Carvalho, em entrevista à revista Ultimato.
O professor Waldyr Carvalho, porém, entende que a questão cultural nos dias atuais está superada, e que portanto, perante a luz do evangelho, é normal que uma mulher seja ordenada a um cargo eclesiástico. “Mercê da obra redentora de Cristo, cancela-se a disposição vigente e implanta-se um regime de paridade e equalização, abolidas as distinções prévias, homem e mulher a fazer jus ao mesmo ‘status’ em Cristo”, argumenta o professor.
Waldyr afirma ainda que a inclusão das mulheres nas atividades da igreja se dá por ação do Espírito Santo, e que não possui relação com a volta de Cristo: “A lenta, mas progressiva inclusão da mulher nos ministérios da igreja é a resultante lógica e natural da operação iluminadora do Espírito Santo a superar limitações e barreiras descabidas que entravam a obra do evangelho. Não se reveste de caráter escatológico, nem é sinal de tempos ou do fim do mundo. É simplesmente, o produto da incoercível dinâmica do evangelho na implantação do reino de Deus ao longo da história”.
Entre os contrários à ordenação feminina, há variados argumentos, entre eles, o de que Deus criou primeiro a Adão, e depois a Eva: “O assunto em questão não é para desmerecer o ministério das mulheres, mas para fazê-las enxergar, que essa ordenação de ‘pastoras’ não é bíblico, é humano, e totalmente carnal. A mulher nunca deve estar na posição de liderança espiritual, pois essa posição foi dada ao homem (Deus disse: Domine o homem). Isso é assim desde o princípio; Primeiro foi formado Adão, e depois Eva. Quando Deus criou Eva, a criou para ser ajudadora, auxiliadora. Ele não a criou para liderar. “Pastora” é uma posição de liderança e contrária à instituição Divina. Isto que está acontecendo em nosso meio é uma afronta ao nome de Deus”, opina o articulista do blog “O Bereano”.
Há críticas também ao fato de muitas igrejas considerarem que a esposa de um pastor também é pastora, devido à união conjugal: “Uma frase terrível que tem surgido nos seguimentos que ordenam mulheres ao pastorado é: Mulher de pastor é pastora, pois, Deus disse que seriam uma só carne. Que absurdo! Ainda usam a Palavra de Deus para tentarem dar bases as suas loucuras. O chamado é pessoal, o ministério é individual. Esposa de pastor não é pastora”, afirma o texto.
Há também, além dos argumentos relacionados ao ministério de Jesus, que notadamente não incluiu mulheres entre seus discípulos, o argumento de que na Bíblia, que possui diversos escritores, não existe nenhuma mulher: “Isso não significa que a mulher tenha menos capacidade intelectual ou espiritual. Entretanto, isso é uma clara mensagem de Deus para o Seu povo: Ele quer usar o homem na liderança. Isso é um fato incontestável que nenhuma feminista poderá jamais refutar. Ir de encontro a isso será uma rebeldia que cada uma irá carregar, arcando com as conseqüências”, pontua o artigo.
Porém, o bispo anglicano e Doutor em Escatologia e Ciências da Religião Hermes Carvalho Fernandes, afirma que “A atividade pastoral é, antes de tudo, um dom– O argumento usado por Pedro para justificar a inclusão dos gentios na igreja foi o dom do Espírito que lhes fora concedido da mesma maneira como aos judeus. Como os apóstolos poderiam impedir a sua inclusão? Semelhantemente, a igreja deve reconhecer o dom pastoral que tem sido concedido a indivíduos do sexo feminino. Ordenar nada mais é do que reconhecer o dom. Negar-se a reconhecer o dom conferido por Deus é o mesmo que resistir a Deus”, argumenta, citando a passagem bíblica de Atos 11.
Fernandes afirma que há denominações que reconhecem o dom mas não atribuem o título, o que para ele, é errado: “Se os líderes atuais reconhecessem o dom pastoral que Deus tem concedido à mulheres, toda discussão cessaria. Alguns, mesmo reconhecendo do dom, negam o título. Algumas denominações preferem chamá-las de ‘missionárias’, ‘doutoras’, mas jamais ‘pastoras’. Chega a ser ridículo. Em contrapartida, encontramos muitos homens que ostentam o título sem jamais terem sido vocacionados para o desempenho do pastorado”.
O bispo Fernandes pontua que no protestantismo, todos os crentes são sacerdotes, e refuta o argumento de que na Bíblia, nenhuma mulher foi ordenada a cargos eclesiásticos: “Alguém poderá argumentar que embora encontremos profetizas nas Escrituras, jamais encontramos sacerdotisas. Mas peraí… Cristo não substitiu o sacerdócio levítico por um eterno, onde todos somos igualmente sacerdotes? Eis um dos pilares da reforma protestante. Todos os crentes são sacerdotes, sem importar seu gênero. Manter a distinção entre clero e leigos é um ranço indesejável que herdamos do romanismo”, critica o bispo, mencionando a passagem bíblica de 1 Pedro, capítulo 2.

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